A DANÇA DAS CADEIRAS DE TÉCNICOS NO BRASIL
- Maria Eduarda Bravo
- 8 de out. de 2017
- 3 min de leitura
Era quase cinco da manhã. O sol já estava querendo nascer. Desci para passear com meu cachorro, porque apesar do perigo que a mídia coloca, insisto em ressaltar que curto fazer caminhadas com o nascer do sol. Quando chego na portaria ouço o porteiro de meia idade falando em um tom grave: “Viu quem é o novo técnico do Sport? ”. Era tão cedo que nem estava sabendo da novidade, mas nem precisei abrir a boca para responder que a mesma voz se adiantou e respondeu: “Finalmente, Vanderlei Luxemburgo vem pro leão! ”. Parei para pensar: “Mas já, outro técnico! ”.
Não é que estava certa? A chegada do Vanderlei foi muito aguardada pelos rubro-negros, mesmo ainda havendo um técnico na beira do campo. O respeito pelo técnico atual nem existiu. Pobre coitado do Daniel Paulista. Mas, pensando bem, porque o Daniel teria o ausente privilégio do respeito, se do início do século até a chegada de Vanderlei foram exatamente 60 técnicos comandando o Sport. “Figurinha repetida não completa álbum ”. Esta, com certeza, é a frase que marca a relação de técnicos/clubes/torcedores.
Vamos comparar o valor do contrato na Europa? Ah, por favor, vamos e devemos! No Real Madrid, por exemplo, do ano 2000 até os dias atuais foram 15 técnicos. Meu Deus! Porque o Brasil não cumpre seus contratos com os técnicos? Não dá nem tempo do coitado do técnico estabelecer uma ligação profissional com os clubes, nem sentimental com os torcedores. Se o time tiver 5 derrotas consecutivas... Ave Maria, pode ir logo se preparando que já vão surgir vários nomes para realizar a troca daquele que fica na beira do campo.
No nosso tropical país Brasil, esse ‘lance’ de renovação de contrato só acontece se o técnico levantar taças, e tiver muitas, mais muitas vitórias no campo. Ah, no futebol você não pode chorar pelo leite derramado. Até a seleção brasileira, onde as cobranças de jogos são mais curtas, por causa do tempo de uma Copa para a outra, já viu mais técnico que alguns times da Europa. Passaram 10 técnicos com a camisa verde e amarela, do ano 2000 até o famoso e vitorioso Tite. A seleção alemã também teve 10 técnicos, mas em 87 anos.
Mas não devo esquecer de culpar de certa forma os técnicos também. Sim, às vezes, treinador que ganha dificilmente quer continuar. Por exemplo, Parreira (1994) e Felipão (2002). Se dependesse da CBF, eles ficariam. Mas os próprios comandantes não quiseram colocar em risco o prestígio adquirido, ou seria melhor aproveitar este prestígio para ganhar mais ‘bufunfa’ com outro trabalho. Um com menores responsabilidades, por assim dizer. Felipão, após a Copa de 2002, botou na cabeça que queria trabalhar na Europa. E conseguiu um excelente emprego na seleção portuguesa. Sim, é em uma seleção, mas não está dirigindo a sua pátria.
O troca-troca de técnicos nos clubes brasileiros, não acontece apenas devido aos dirigentes. Conta muito a pressão dos torcedores e até da imprensa sobre um profissional. Não sou profeta, nem nada. Mas, se isso acontece, com certeza, a situação se torna a demissão inevitável.
Botei a boca no trombone e digo o legal de cumprir contrato com os técnicos, é a imagem que fica no clube. Imagem não, que tal… o respeito! Vejam há quantos anos o Manchester United permaneceu com Alex Ferguson no comando técnico do time. Foram extensos vinte e sete anos. E ninguém veio com o papinho de “fadiga dos metais”, “desgaste nas relações com o grupo” e outras balelas. Rum! Pelo contrário amigos(as). O atual técnico, Mourinho, insiste em bater o recorde do Alex. Quando uma equipe vai mal, querem trocar o comandante. Como não dá para demitir o presidente, ou qualquer diretor, vai o técnico.
Podemos até ser o país do futebol. Pois, sim, temos muitos talentos em campo. Graças a Deus! Mas quando o assunto é comandante, ah, aí o brasileiro é mais afoito e sobra na brincadeira da dança das cadeiras. E adivinhem para quem sobrou a cadeira? Sim, os técnicos de futebol.
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