top of page

VIOLÊNCIA, DOENÇA CRÔNICA

  • Álvaro Ferraz Vilarim
  • 19 de out. de 2017
  • 2 min de leitura

“Não sou profeta, nem tampouco visionário, mas o diário deste mundo ‘tá’ na cara”. Petrúcio Amorim, me dê licença, mas comecei esta crônica com um trecho de um dos seus inúmeros causos sobre a vida nordestina. Crônica esta minha, meus amigos, bem longe de ser uma obra Rodrigueana. Mas, por falar no grande mestre, talvez, se vivo estivesse, Nelson Rodrigues não sugeriria ao outro grande ilustre, Portinari, uma pintura de índios com “calções, chuteiras e camisa amarela”, mas ‘políticos com malotes e dinheiro na cueca’.

Recifense, o saudoso cronista, se vivo estivesse, talvez, quem sabe, diria que a maior vergonha pernambucana fosse hoje uma “vergonha nacional só comparável à de Canudos”? Quem sabe?

O que, pelo menos, eu sei, é que do jeito que tá não pode ficar. A maior vergonha pernambucana hoje é, sem dúvidas, a “presença que faz a diferença” – ou seria a “(des)presença”? As duas! Uma presença sem fim da violência e uma (des)presença de um governo que ‘vê’, em média, 15 ASSASSINATOS POR DIA acontecerem nos quatro cantos do estado – que até então era referência no combate à criminalidade com o "saudoso" programa ‘Pacto pela Vida’.

Lá se vai o pacto, lá vem o medo. Medo de todos os lados. Inclusive nos estádios. Hoje, uma das icônicas frases de Nelson nunca fez tanto sentido: “Em futebol, o pior cego é o que só se vê a bola”. É preciso, meus amigos, ver mais do que a bola, mais do que atletas, mais do que sonhos e torcidas... É preciso ver que há um novo “7x1” diferente, quase sempre que rola partidas de futebol. Basta ver as manchetes nos jornais, ouvir o rádio, ver a TV... (ou seria, como canta Petrúcio, “televisão de fantasia e violência, aumenta o crime, cresce a fome do poder”?)

A realidade da violência, no entanto, não é pernambucana. É nacional! O Brasil de Pelé, de Neymar, de Garrincha, dos milhões de torcedores... de Nelson Rodrigues... o “Brasil, País do Futebol” acabou virando o país futebolista mais ‘homicida’ do mundo!!!! “É tiro, porrada e bomba”!! Os números são assustadores! (E ISSO NÃO É UM EXAGERO RODRIGUEANO)! Para você ter uma ideia, só no ano passado, 13 pessoas foram mortas em confrontos ligados ao futebol e, só até a metade da temporada deste ano, ao menos 12 já ‘bateram as botas’!

“E, por isso, eu lhes digo”, amigos, a Primeira Missa, de Portinari, pode até não existir, como disse Nelson, mas a brutalidade e a selvageria que atingem o futebol é real. Muito real! Precisamos combater o mais rápido (pra ontem!) esta doença crônica que descolore e ofusca o que era pra ser o “fabuloso espetáculo”. Pior. Toda essa hostilidade acaba com vidas de quem só queria, muitas vezes, esquecer a triste realidade brasileira ao se deleitar numa partida do seu time de coração... “Eu não sou dono do mundo, mas tenho culpa porque sou filho do dono” – mais uma vez, peço-lhe licença, Petrúcio.

Mas, e Nelson?

Caso vivo estivesse, o que diria o grande mestre?

Comments


© 2017 por DESPORTIVO

bottom of page