SANDA: A ARTE MARCIAL QUE VAI ALÉM DA LUTA
- Victor Augusto
- 10 de out. de 2017
- 3 min de leitura
A modalidade de luta busca não somente a força corporal, mas também o equilíbrio entre as forças opostas que compõem os humanos

Professor Roberto Falcão e Danilo Souza praticando socos e esquivas/Foto: Victor Augusto
Sanda, também conhecido como Boxe Chinês ou Sanshou, é uma arte marcial desenvolvida há séculos pelo exército chinês, com o intuito de ensinar a arte milenar do Kung Fu de forma prática e rápida, visto que a modalidade tradicional demoraria cerca de vinte anos para ser aprendida. A sua implantação militar foi um marco, pois até que suas terras fossem dominadas pelos Mongóis, em 1271, a China passou por quase três mil anos de guerras contínuas. Até os dias de hoje, a prática continua sendo o método de treinamento das forças armadas do país asiático, e vem se popularizando fora do seu local de origem.
Muito parecido com o Muay Thai em relação aos golpes, o Sanda se diferencia pela pouca (ou nenhuma) utilização de joelhadas e cotoveladas, o que é compensado com um treinamento de quedas perigosas. Sendo assim, consiste em socos, chutes e projeções. Vale lembrar que, ao contrário do Jiu Jitsu, no Boxe Chinês não existe combate no chão, apesar do atleta jogar adversários no tablado. Quando o oponente chega ao solo, a luta para. Caso se trate de uma aplicação em defesa pessoal, a projeção pode facilmente encaixar um movimento de quebra ou torção de algum membro.
O Kung Fu (ou Wushu) possui centenas de golpes que, combinados, proporcionam milhares de possibilidades na hora da luta. “Garça”, “tigre”, “pinça” e “garra” são algumas das inúmeras posições de mãos existentes na arte milenar. No Boxe Chinês, essa variação não acontece, pois nas mãos de seus praticantes são colocadas luvas, o que restringe o uso de posições diferentes. Mas isso fica apenas na prática esportiva pois, na defesa pessoal, são utilizadas algumas variantes oriundas da sua arte materna.
Sendo assim, é possível afirmar que o Sanda é uma "simplificação" da famosa arte marcial. Além de ter absorvido parte dos movimentos do estilo tradicional chinês, a modalidade herdou a filosofia do Kung Fu. O aprendizado da ideologia pode ser considerado tão importante quanto o treino corporal.
Foto 1: Victor Augusto/Falcão fazendo projeções com seu aluno Danilo
Foto 2: Victor Augusto/Falcão fazendo demonstração de defesa pessoal
O Kung Fu é permeado de simbologias e filosofias. Segundo Roberto Falcão, professor de Sanda, a arte é baseada nas correntes filosóficas asiáticas do Taoísmo e no Confucionismo. Ambas são vistas como rivais mas, apesar disso, elas se completam e formam uma dualidade construtiva ao praticante. O conceito de Yin e Yang está muito presente no processo de aprendizado. Enquanto o homem moderno ocidental vive numa constante crise entre “bom e mau”, “certo e errado”, “luz e escuridão”, a arte marcial chinesa já havia superado esses entraves há séculos, aceitando que todos são feitos de elementos opostos, e que não há hipocrisia em aceitar isso.
"Em três anos, o praticante pode chegar à graduação máxima”, explica Falcão. Na academia onde ensina, a Fight Sports Pernambuco, ele é mestre de vários alunos e, entre os aprendizes, conversamos com o estudante Danilo Souza, 17 anos. “Controle da raiva, o aprendizado dos movimentos e melhoria da saúde e foi o que ganhei nesse tempo”, conta o estudante que pratica o Sanda há um ano e cinco meses.

Falcão finalizando treino com a saudação/Foto: Victor Augusto
A posição de mãos é utilizada como instrumento de saudação ao professor, companheiro de treino ou adversário. Como o Kung Fu não busca o conflito mas, sim, o autoconhecimento e a paz, sua comunicação não poderia expressar algo diferente. Ao entrar no tablado, o praticante deve colocar seu punho direito fechado sob a palma da mão esquerda aberta. A mão direita significa a guerra e esquerda se sobrepõe a ela, representando a paz.
“Dizem que quando se está em uma situação de perfeita harmonia, nossa mão esquerda deve ficar totalmente repousada sobre a direita. Isso indica que chegamos ao equilíbrio absoluto. Mas a verdade é que nunca chegamos a um equilíbrio absoluto, pois estamos todos em construção”, finaliza o mestre Roberto Falcão.
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