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PRECISAMOS FALAR SOBRE INTERLAGOS, FÓRMULA 1, A PIRELLI E DÓRIA

  • Victor Augusto
  • 20 de out. de 2017
  • 4 min de leitura


A prefeitura de São Paulo e a “ajuda” da Pirelli em Interlagos

Parceria foi anunciada visando atrair mais investidores para o autódromo, mas a organização afirma não participar da concorrência na entrega do circuito às empresas privadas. O processo de privatização encontra várias críticas

Um protocolo de intenções foi assinado pela Pirelli junto à prefeitura de São Paulo visando ajudá-la a atrair novos investidores para o Autódromo de Interlagos, que será palco de mais uma corrida no dia 12 do próximo mês. A empresa busca alavancar as pesquisas tecnológicas do circuito, além de ajudar com seu know-how, maximizando a busca de investidores para o processo de privatização encabeçado pelo prefeito da cidade, João Dória. A entrega do circuito vem sendo criticada por especialistas que apontam que a venda não deveria acontecer e que os valores de leilão ditos pelo prefeito são impossíveis de serem atingidos.

A gigante Pirelli e o prefeito da cidade de São Paulo parecem ter uma relação muito estreita. João Dória, que também é empresário, esteve em Milão, cidade sede da megaempresa italiana, na última semana. Lá, o "gestor" teve reuniões com a fabricante de pneus e anunciou que ela participaria do leilão do Autódromo de Interlagos. Mas após encontro com o CEO da organização milanesa, corrigiu a informação afirmando que a Pirelli só iria participar de forma indireta do processo, ajudando com seu know-how e buscando investidores internacionais.

O processo de privatização de Interlagos é uma promessa de campanha do prefeito. Durante as eleições, ele anunciou que o circuito só oferece prejuízos e que o leilão, junto com o do Anhembi, gerariam ganho de aproximadamente R$ 7 bilhões. Personagens que fazem parte do automobilismo apontam que, na verdade, a pista, que atualmente tem uma gestão municipal, dá lucros, e que o valor de venda apontado por Dória é impossível de ser alcançado. No ano passado, Alcino Reis Rocha, então presidente da SPTuris, órgão responsável pelo autódromo, afirmou que o prefeito manipulou os números.

Segundo Rocha, a prefeitura não tem nenhum gasto com Interlagos, pois os custos de manutenção são pagos pela própria SPTuris, a partir das receitas obtidas com a locação do espaço para eventos e shows, além da corrida de F1. Em entrevista à Folha de SP, no ano passado, o então presidente afirmou que a privatização "não geraria economia porque a prefeitura já não gasta com isso". O valor estimado da manutenção autódromo é de R$ 8 milhões por ano, número que, segundo Flávio Gomes, experiente jornalista automobilístico, "não é prejuízo, é custo"

Em 2014, o órgão anunciou que a corrida movimentou cerca de R$ 260 milhões na capital paulista, além de um lucro direto anual estimado em R$ 6 milhões só para a prefeitura, que é acionista majoritária da SPTuris. O Anhembi, por sua vez, gerou um lucro de R$ 18.7 milhões no ano passado e, em 2015, o número chegou a mais de R$ 59 milhões. Juntos, Anhembi e Interlagos deram um lucro estimado de R$ 25 milhões em 2016, valor considerável que entrou nos cofres da prefeitura. Mas a grande questão é: qual a empresa que pagaria R$ 7 bilhões pelas duas, já que o dinheiro investido só seria recuperado em cerca de 280 anos?

João Dória (Fotografia: banco de imagens do Zimbio)

Interlagos foi construído pela Companhia Auto Estradas na década de 40, e passou para a gestão municipal após uma desapropriação, que ocorreu em 50 devido ao plano da empresa de transformar o autódromo em um bairro planejado. Na época, o automobilismo já era uma realidade, sendo um fator importante para a economia e a vida São Paulo. A chegada da Fórmula 1 na capital paulista ocorreu em 72, passou alguns anos no Rio de Janeiro, para retornar em 1990. Desde então, a corrida é o evento mais importante no calendário da cidade, principalmente quando se fala em geração de impostos.

Graças ao automobilismo, muitas vidas giram em torno de Interlagos. Ao privatizá-lo, as pessoas que fazem da pista paulista um meio de geração de renda podem sofrer com a mudança . Mais do que um lugar para receber grandes eventos, o local serve como área de lazer para famílias da capital. No autódromo, atualmente são oferecidas aulas gratuitas de várias modalidades de esportes, como futebol e ginástica. Além disso, o espaço oferece aulas de canto, artesanato e oficina corporal.

Não se sabe ao certo quem seriam os personagens interessados na compra de Interlagos, mas é possível ver que seus números chamam atenção. A fabricante de pneus Pirelli, apesar de ter afirmado que a possibilidade de ser dona do autódromo não faz parte do seu negócio principal, quer se manter por perto da prefeitura e sua pista. A única coisa apontada como certa é que, caso seja leiloado, o famoso autódromo brasileiro não será manejado por entidades nacionais, pois, como o próprio Dória afirmou, a ajuda da organização italiana visa a atração de investidores internacionais. Quando a FIA (Federação Internacional do Automobilismo) achou que o processo de leilão poderia ocorrer esse ano, a entidade colocou a situação da etapa no Autódromo José Carlos Pace como "a confirmar", pois nada garante que ele continue uma vez que seja vendido.

Caso a aposentadoria de Felipe Massa se confirme antes da etapa brasileira, o GP de Interlagos deve ter um sucesso ainda maior em termos de público, pois essa seria sua corrida de despedida em casa. A bandeirada inicial ocorre para os pilotos ocorre no próximo dia 12 de novembro, às 14h. Mas a largada mais importante, a que dá início à concorrência pela posse do circuito, foi dada quando a nova gestão deu sinais que iria oferecê-lo sem consultas à sociedade civil.

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