VAQUEJADA É ESPORTE?
- Álvaro Ferraz Vilarim
- 4 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Prática com animais divide opiniões e levanta polêmica
Diversão, separação no tempo e no espaço, incerteza, improdutividade, governada por regras e ficcional. Para o sociólogo francês Roger Caillois, essas são características delineadoras de jogo. Quando ele termina, segundo o historiador holandês Johan Huizinga, “permanece como uma criação nova do espírito, um tesouro a ser conservado pela memória. Desta forma, o jogo torna-se tradição, pode ser repetido a qualquer momento”.
Vaquejada: “Espécie de torneio onde os vaqueiros demonstram suas habilidades na derrubada de novilhos.” – dicionário Google.
Seriam definições complementares? Uma união do tipo Lampião e Maria Bonita? Ou seria uma união arriscada como a de Romeu e Julieta?
A verdade é que há uma polêmica: Vaquejada é esporte?

Para o sertanejo Edmir Souza, "Pega de Boi” é cultura; Vaqueja é esporte.
Souza já promoveu festas de vaquejadas e, desde 1999, organiza a maior "pega" da microrregião de Itaparica, Sertão de Pernambuco. Souza elenca algumas diferenças:


Ainda de acordo com Souza, a pega de boi em si, diferentemente da vaquejada, não gera lucro. O lucro vem da festa que acontece geralmente após as premiações. Várias bandas de vaquejada e de forró atraem milhares de pessoas, não só os vaqueiros, o que gera capital.
De acordo com a Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ), anualmente, cerca de 4 mil vaquejadas são realizadas no País.
Um dos motivos – talvez o maior deles – que levanta a discussão se a vaquejada é ou não esporte é o envolvimento de animais. Daí surge mais uma indagação: a prática machuca/tortura-os?
Tendo em vista que as opiniões em torno do assunto são diversas, pedi em minha página pessoal do Facebook que argumentassem sobre essa polêmica:

José Neto tem 23 anos, e pratica a vaquejada há pelo menos cinco. O gosto pela atividade vem de berço. Ele reconhece que outrora ocorreu maus-tratos aos bichos na vaquejada, mas acredita que entidades têm se esforçado para torná-la menos prejudicial aos animais, como incentivar o uso de protetores nas caudas dos bois, por exemplo.


Segundo o médico veterinário e professor do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (Campus Petrolina), Rodolfo Peixoto, vários são os riscos que correm os equinos e os bovinos submetidos à vaquejada: “Os riscos vão desde o aumento de cortisol no sangue, devido ao estresse, até lesões em regiões diversas do corpo”. Esses fatores levam Peixoto a defender a proibição da vaquejada, pois "tudo aquilo que implica em dor e sofrimento a uma das partes, não pode caracterizar esporte”.
Já para o seu colega Iran Torquato, zootécnico e professor do IF Sertão PE (Campus Floresta), a vaquejada, por ser uma tradição nordestina, é sim esporte: “A palavra esporte envolve cultura, tradição, disputa, geração de emprego, economia para o município”. Ao seu ver, a prática não deve ser proibida. No entanto, as regras devem ser seguidas: “Todas as vaquejadas têm um regulamento, se as normas forem cumpridas, não terá consequências para os animais”.
Em novembro do ano passado, durante a discussão da PEC da Vaquejada, o médico veterinário e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Hélio Cordeiro Filho, alegou que exames de sangue feitos em equinos após as vaquejadas revelam uma não alteração em níveis, por exemplo, de glicose, taxas de cortisol e lactato, não sinalizando estresse ou lesões musculares. No caso dos bovinos, não há dados que comprovem danos. Mas o professor acredita que o fato deles voltarem a comer logo após a vaquejada – isso só acontece se o animal estiver relaxado – é um indicador de saúde e não de sofrimento.
Visando o bem-estar do animal, a Associação Brasileira de Vaqueja determina que os eventos de vaquejadas sigam um regulamento. Os manuais e termos, bem como o relatório e requerimento estão disponibilizados no site da ABVAQ.


E você, o que acha da vaquejada ser considerada uma prática desportiva garantida por lei?
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