A POLÊMICA DA VAQUEJADA
- Ana Flávia Barros
- 3 de nov. de 2017
- 2 min de leitura
“Vou pedir licença pra contar a minha história, como um vaqueiro tem suas perdas e suas glórias...” É pedindo permissão a Rita de Cássia, compositora da música Saga de um Vaqueiro, que encontro uma brechinha pra falar sobre esse esporte tão famoso e discutido no nosso Nordeste.
O debate em torno dessa prática é entre os defensores e os críticos que se matam pelas suas opiniões. Tem maus tratos ou não tem? É esporte ou não é? Deve ser proibido ou liberado? Eis a questão.
Enquanto os protetores dos animais são contra essa prática pelos maus tratos aos bichos (me incluo nesse grupo), os defensores da vaquejada veem o lado cultural e a diversão (tortura?) proporcionada por essa realidade que passa de geração a geração.
Depois do futebol, o esporte preferido dos nordestinos é a vaquejada. Nela, uma “dupla de dois” montados cada um em um cavalo tenta derrubar o boi puxando- o pelo rabo. Tadinho... E os maus tratos não param por aí. Além da violência na arena, dos usos de utensílios de tortura, os animais ainda sofrem com precárias formas de deslocamento, estresse, entre muitas e muitas outras questões.
A forma que a plateia vai à loucura com o derrubamento do boi me lembra das antigas práticas dos gladiadores no Coliseu, quando violência fazia com que a multidão vibrasse e ficasse com o coração na mão, torcendo pela finalização e vitória dos que estavam na
arena. Séculos depois percebo os métodos e formas mudaram, mas a espetacularização de uma derrota versus vitória pelo brasileiro no estádio/campo permanece enraizado na sua cultura como diversão.
Pensando sobre a vaquejada me vem na cabeça um episódio de uns anos atrás onde fui com alguns amigos e familiares assistir um rodeio. Nunca tinha visto tal coisa, me senti enojada naquele lugar vendo os maus tratos dos animais e o incentivo dos torcedores pela continuação desse ‘circo’. E quando a gente vai falar que acha isso errado, lá vem um monte de gente falando que é cultura, é tradição, é diversão, blá, blá, blá. Sei não viu...
É só pensar mais um pouquinho, talvez nem tanto, para perceber a desigualdade dos oponentes. Enquanto o bichinho está frágil - e talvez até violentado para perder logo -, o vaqueiro já tem seus truques e manhas para vencer seu adversário. Agora vamos parar e pensar no animal. Como será viver no “boom”? Caindo e levantando, levantando e caindo, sendo puxado pra lá e pra cá?
No meio dessa história surgiram várias leis que proíbem ou liberam essa prática. Por exemplo, em outubro do ano passado foi proibida a vaquejada no Ceará, aí na Paraíba, em 2015, a vaquejada foi eleita como esporte. Em novembro do ano passado ela foi proibida em Pernambuco, em janeiro desse ano foi liberada no mesmo estado, e por aí vai…
Por outro lado, a perda dessa atividade implicaria numa série de desempregos. A vaquejada gera, em média, 700 mil a 1 milhão de postos de trabalho, de maneira direta ou indireta. Será que vale a pena por toda essa dor e tortura?
Você aí, o que acha dessa prática?
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