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ATÉ QUANDO AS MULHERES SERÃO TRATADAS COMO PIADA NO ESPORTE?

  • Maria Eduarda Bravo
  • 2 de nov. de 2017
  • 5 min de leitura

Apesar de haver uma consciência mais disseminada sobre a igualdade entre homens e mulheres para conquistar a mesma remuneração exercendo cargos iguais, o respeito e o poder, ainda existe, na maioria das partes do mundo, uma área em que fica para trás: o esporte.

Quantas vezes você já ouviu alguém dizer a um jogador do sexo masculino que ele "joga como uma menina"? Uma jogada mal sucedida termina sendo associada a uma performance feminina. Na minha infância/adolescência, cresci jogando e assistindo esportes, e me deparei com essa expressão diversas vezes com a intenção de insultar, o que me fez refletir o quanto não é considerado bom uma garota estar no esporte.

Dentro de campo pode haver um desnível, uma vez que os garotos tiveram o privilégio de mais recursos dedicados à sua habilidade e acesso a treinamento. Segundo o Diagnóstico Nacional do Esporte, divulgado após estudo do Ministério do Esporte em 2013, 41,6% dos meninos se envolvem com uma prática entre os 6 e 10 anos, enquanto só 29% das meninas começam nessa idade.

ACREDITE, SEXISMO EXISTE EM PLENO SÉCULO 21

Como recordar é viver, lembrarei o caso de Fernanda Colombo Uliana, mais conhecida como ‘Musa da Arbitragem’, título que nunca gostou, como declarou algumas vezes. O nível de rejeição era tão alto que Fernanda largou a profissão esportiva por causa da pressão que recebeu durante as partidas. Um erro cometido em um impedimento no clássico Cruzeiro e Atlético-MG, no ano de 2014, em Minas Gerais, foi a "gota d’água".

Após o erro na partida do Cruzeiro, o diretor de futebol do clube, Alexandre Mattos, falou para a Globo: "A bandeirinha é bonita, mas não está pronta. Os caras gritam e ela erra”. Na mesma entrevista, ainda afirmou: "Se ela é bonita, vá posar para Playboy, não trabalhe no futebol".

Depois de um período afastada, para "reciclagem”, como alegou a CBF na época, Fernanda retornou pela Série C do Campeonato Brasileiro. Em 2015, transferiu-se da Federação Catarinense para a Pernambucana, onde foi eleita melhor assistente do Estadual. “Nas minhas novas prioridades, a arbitragem não se encaixa”, destacou. Fernanda escreveu um livro sobre regras de futebol e pretende publicá-lo em breve. Outra meta é concluir especialização e trabalhar com jornalismo esportivo, além de criar um canal no Youtube para comentar sobre futebol. “Realizei meu sonho de estar nos gramados e fiz muitos amigos no futebol”, desabafou a ex-árbitra na entrevista.

É evidente que o sexismo a atormentou e prejudicou sua carreira no mundo esportivo, fazendo com que Fernanda se aposentar aos 25 anos.

ABRINDO O JORNAL NA ÁREA DE ESPORTES, VOCÊ VÊ MULHERES?

Foto: Divulgação/Facebook

Renata Mendonça é jornalista da BBC e uma das fundadoras das Dribladoras, grupo do Facebook para fãs de futebol feminino. Ela diz que a cobertura da mídia no Brasil está quase totalmente focada em esportes masculinos. “Apenas 3% da cobertura dos meios de comunicação social falam sobre esportes femininos. Portanto, você não tem o mesmo investimento porque os patrocinadores querem visibilidade”.

A cobertura da Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, foi bastante questionada. Embora tenha havido uma série de reviravoltas para o sexismo vigente, não mudou o fato de que as conquistas dessas mulheres ainda são minimizadas e sexualizadas, mesmo que estejam ganhando medalhas olímpicas. Não se lembra? Confira os exemplos:

Apresentação de atleta nas Olimpíadas do Rio

De acordo com o jornal Mashable, a ginasta mexicana de 22 anos, Alexa Moreno, foi envergonhada no Twitter depois de competir nas qualificações de ginástica artística por causa do seu peso. Muitos dos tweets foram excluídos.

O seximo está presente em estratégias sutis. Na chamada ao lado, o nadador americano Michael Phelps ficou com o segundo lugar, enquanto Katie Ledecky marcou um recorde mundial nos 800 metros livre femininos mas recebeu reconhecimento menor.

Foto: Getty Images

A chinesa He Zi acabava de receber medalha de prata no evento de trampolim de 3 metros quando seu namorado, o mergulhador olímpico Qin Kai, a pediu em casamento. Posteriormente, alguns internautas comentaram que a proposta do mergulhador era ainda melhor do que medalha de He Zi. Sem dúvidas, o pedido foi emocionante, mas não era o mais importante naquele momento.

DINHEIRO? PATROCÍNIO? EU SÓ OUÇO FALAR...

Nas fotos da premiação, as atletas exibiam um cheque de 200 mil dólares.

Enquanto isso, na premiação masculina, o primeiro lugar valia cinco vezes mais: 1 milhão de dólares.

O esporte é considerado um fenômeno social e cultural. Assim, pode-se observar que com o passar do tempo ele se relaciona mais com aspectos da vida familiar, educação, política, economia, arte e religião. Atualmente, o esporte se transformou num grande espetáculo, sustentando novas dimensões publicitárias, políticas e econômicas em termos de evolução e status social.

Na lista do ano passado da Forbes, em que se apresentava os 100 atletas mais bem pagos do mundo, apenas duas mulheres apareciam: Maria Sharapova e Serena Williams. A partir daí, já é possível enxergar um problema.

De acordo com dados do jornal Campaign, o esporte feminino representa apenas 5,4% do valor de todos os acordos de patrocínio. Segundo Giovanna Santos, atleta amadora de ginástica, o que precisa mudar é a visão de quem possui os recursos. “Do ponto de vista público, há mais interesse no esporte feminino, mas a cobertura da mídia e os gastos de patrocínio não melhoraram", diz.

Marta, eleita a melhor jogadora de futebol do mundo por cinco anos, atualmente faz parte do Orlando Pride, time de futebol dos Estados Unidos. Ganha bem, porém, menos do que qualquer jogador titular de um clube da Série A do Campeonato Brasileiro, informou a revista Veja. Já no basquete americano, um atleta masculino da NBA recebe o mínimo de 535 mil dólares por temporada, enquanto o mínimo recebido por uma atleta feminina é de 109 mil dólares.

Outro caso que representa essa discrepância é o de Neymar Jr. O queridinho de Galvão Bueno demora apenas 4 minutos e 23 segundos para ganhar R$ 937, o valor do salário mínimo brasileiro. Por dia, ele receberá R$ 308.333, o valor de um ótimo apartamento em algumas capitais brasileiras. Com um salário mínimo por mês, o trabalhador demoraria 822 anos para juntar os R$ 9,25 milhões que Neymar ganhará em 30 dias de contratos.

A falta de patrocínio para o lado das mulheres não é só brasileira. Para as Olimpíadas, o Reino Unido investiu:

Foto: Divulgação

A ciclista britânica Lizzie Armitstead, ex-campeã mundial e atual campeã da corrida da estrada da Commonwealth, publicou o livro ‘Steadfast: My Autobiography’, que levanta diversas questões sobre a existência do sexismo, por exemplo, a do prêmio feminino em dinheiro. Quando Lizzie se tornou campeão mundial, em 2015 , ganhou £ 2.000, enquanto o prêmio masculino era de £ 20.000.

AINDA É CEDO PARA ENCONTRAR A SOLUÇÃO CERTA, MAS IDEIAS NÃO FALTAM

A professora de Educação Física Cintia Oliveira alerta que no universo esportivo pode-se mudar as experiências vividas, tanto peloS meninos quanto pelas meninas, logo na infância:

  • “Todo o esporte juvenil deveria ser de gênero combinado até, pelo menos, a idade do ensino médio, e isso não deve incluir apenas quando for por aulas da instituição, mas também quando houver eventos competitivos”.

  • “Misture a ordem em que os jogos são jogados. Por exemplo, primeiro são realizados os jogos masculinos e logo após poderiam acontecer as partidas femininas no mesmo estádio”.

  • “As pessoas que praticam esporte são muito mais propensas a incentivarem seus próprios filhos a se envolverem também".

Andrea Queiroz, aos 24 anos, atua como lateral direita e meia armadora no Sport Recife e diz que para minimizar a desigualdade, a mudança poderia começar dentro dos clubes. “Com condições de trabalho, as competições seriam mais niveladas, disputadas e chamariam atenção da torcida. Tendo telespectadores, os investidores entrariam em ação, pois teriam o retorno que toda empresa quer”, afirma.

Para ela, o preconceito não vem do esporte, mas de outros atores como os meios de comunicação, patrocinadores, diretores etc.

Esse universo é marcado pelo sexismo. Todos nós sabemos. Apesar do progresso, as mulheres ainda enfrentam uma batalha árdua para serem consideradas de mesmo nível dos homens na atividade esportiva. Está na hora de dar um novo significado para a frase "você joga como uma menina".

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