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FORÇA E SUPERAÇÃO: “O MERGULHO QUE MUDOU A MINHA VIDA”

  • Wanda Nascimento
  • 3 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Paratleta Adalberto Nuno Jr. em treino no Instituto Santos Dumont/Acervo Pessoal

Adalberto Nuno Júnior, 40 anos, deficiente físico motor há 14 anos por causa de um acidente no trânsito, portador de trauma raquimedular nível T4 e paratleta na modalidade natação. Após 12 anos de luta nas aulas de reabilitação, redescobriu sua grande paixão por esse esporte.

“Minha mente se abriu a partir do momento em que passei a conviver com outras pessoas portadoras de deficiências, pessoas como eu, ativas, vivendo suas vidas normalmente. Após o acidente a maior missão era me entregar por completo e me reinventar”, diz. Por nadar muito bem, o talento de Adalberto na piscina chamou a atenção de alguns profissionais envolvidos com a modalidade paralímpica e lhe fizeram o convite de treinar profissionalmente.

Nuno conta que, de acordo com os diversos laudos médicos, o tipo de lesão paraplégica do acidente atingiu cerca de 70% de sensibilidade abaixo da lesão de uma das vertebras de sua coluna, o que prejudicou apenas cerca de 30% de sua coordenação motora para os músculos ativos, por isso suas pernas não sofreram atrofia. Quando um indivíduo sofre um trauma de coluna na cervical "C", ele é classificado como um paciente tetraplégico, ou seja, não consegue movimentar nenhum de seus membros, tendo uma lesão medular completa. No caso de Nuno, o trauma na coluna foi uma lesão medular no nível torácico "T", identificado como paraplégico, onde a lesão mobilizou apenas os membros inferiores.

Técnica Sandra Costa e o paratleta Nuno Jr. em momento de descontração antes do treino/Acervo Pessoal

Sandra Costa, professora de Educação Física e técnica na modalidade paralímpica de natação do Centro Educacional Santos Dumont, esclarece: “as pessoas com deficiência de ordem física adquirida necessitam de atendimento fisioterápico e psicológico, a fim de lidar com os limites e as dificuldades decorrentes da deficiência. Algo simultâneo, que tem o poder de desenvolver todas as possibilidades e potencialidades do mesmo”.

O tempo foi desafiador. Nuno descobriu que era preciso encarar a dura realidade que se impunha à sua frente. Durante três anos a cadeira de rodas tornou-se uma das suas piores inimigas, já que ele havia se acostumado a uma vida independente desde cedo. “Depois do acidente eu não queria mais falar com ninguém. Preferia ficar em casa, isolado de todos. Minha única vontade era não fazer mais parte do mundo. Foi quando a natação me fez voltar às atividades e retomar a minha vida social. No início o mundo parecia ter desabado sobre mim, só enxergava a cadeira de rodas”, conta.

Sandra explica os benefícios que a natação tem de ressocializar e de fortalecer o psicológico e o físico do praticante: “o conforto que o corpo sente na água devido à redução do peso corporal e à eliminação da força da gravidade é incalculável. A água é um excelente meio para a recuperação do deficiente devido às suas propriedades específicas, pois estimula o desenvolvimento sócio comunicativo, aprimora o aprendizado e à capacidade psíquica”. Para ela, inserir os deficientes físicos motores à natação significa desenvolver sua coordenação e condicionamento aeróbio.

Atualmente, Nuno é atleta paralímpico pernambucano e não se vê mais preso ao passado. Faz planos, participa de diversos campeonatos como esportista profissional e é vitorioso em todos os sentidos. Para ele, a prática de exercícios e atividades devolveu a autoconfiança e elevou sua autoestima. “A sensação de bem estar e satisfação é gradativa no processo evolutivo. Um dos maiores valores do esporte, no meu caso, é elevar todo potencial do corpo. Isso melhora a autoimagem e simultaneamente amplia as condições de voltar à sociedade. O acidente me fez sofrer, mas o esporte me fortaleceu pra vida”, declara.

“Eu era um Nuno antes. Hoje sou outra pessoa, totalmente diferente, em todos os sentidos”. Além de esportista, ele também é empresário e proprietário de uma renomada casa de festas no Recife, onde organiza diversos tipos de eventos e atua nas horas vagas como DJ.

https://www.youtube.com/watch?v=46Q5YUOeIZc&feature=youtu.be

Nuno Jr. atuando como DJ/Acervo Pessoal

“Todos os dias me permito e faço acontecer”, ressalta. “O renascimento de Nuno na prática esportiva regular e intensa da natação foi um dos caminhos que a vida o proporcionou para devolver-lhe o equilíbrio e reativá-lo normalmente, mesmo com limitações”, complementa Sandra.

Treino para o Campeonato Interno Pernambucano 2016 - Instituto Santos Dumont/Imagens: Acervo Pessoal

Edição: Wanda Nascimento

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